Há uma grande ideia difundida de que as estrelas do céu noturno não existem mais. Por mais que tenha um fundo de verdade, a questão é mais complexa do que parece e não é exatamente como as pessoas pensam.
Certamente, o sonho de todo observador do céu é observar uma supernova durante a vida, ou seja, o momento final de uma estrela após vários milhões ou até bilhões de anos. O evento em si é capaz de emitir tanta luz quanto uma galáxia inteira e, se ocorresse em alguma das estrelas visíveis à noite, podemos ter a certeza que teríamos um verdadeiro show a olho nu.
O conceito de velocidade da luz
Para justificar tal afirmação, é usada a ideia de atraso ou “delay” da velocidade da luz no universo. Simplesmente foge da nossa compreensão imaginar o quão grande pode ser 1, 2, 3 anos-luz, ou melhor, quem sabe 1 milhão de anos-luz. Pois é, essa escala de distância da astronomia se baseia na velocidade da luz de quase 300 mil quilômetros por segundo.
Apenas um único ano-luz representa mais de 9 trilhões de quilômetros, e a luz leva um ano em nosso tempo para conseguir se deslocar por tudo isso. Detalhe, estamos falando da coisa mais rápida do universo, e fica difícil imaginar a dimensão de tal distância em termos cósmicos. Agora eleve isso para 10, 100 ou 1000 anos-luz. É uma escala imensa!
A vida de uma estrela
Em suma, tudo o que vemos no universo está sujeito ao delay de propagação da luz que chega aos telescópios na Terra. Mas vamos considerar também o ciclo de vida estelar.
Tomemos como exemplo as estrelas como Betelgeuse, Antares e Aldebaran. Os astrônomos as classificam como supergigantes vermelhas, uma fase na vida estelar em que elas já deixaram a sequência principal e se dirigem ao fim de sua existência. Na prática, todas as estrelas do universo passam pela sequência principal em algum momento, independentemente da quantidade de massa que possuam.
O Sol, por exemplo, está passando pela sequência principal neste momento. A fase deve durar pelos próximos bilhões de anos.
Com exceção do Sol, as outras estrelas citadas já se encontram no caminho para finalmente explodir, já que não estão mais na sequência principal e hoje devem estar fundindo e dando prioridade a átomos de elementos cada vez mais pesados. Quando isso acontece, a pressão de fusão nuclear diminui e a gravidade então implode a massa estelar até o ponto de ocorrer uma explosão.
A escala temporal em que isso acontece
Juntando os dois pontos, chegamos então ao cerne da questão. A luz de fato tem uma velocidade limite no espaço e causa uma atraso na visão dos objetos celestes. No entanto, o ciclo de vida de uma estrela fica na casa dos milhões até bilhões de anos.
O delay causado na luz não é significativo ao ponto de que as estrelas do céu noturno possam já ter desaparecido. A estrela Sirius, por exemplo, está localizada a 8 anos-luz, mas deve viver por mais alguns bilhões de anos. Neste caso, o delay da luz é curtíssimo em relação ao tempo de vida estelar.
Então não, não é verdade que as estrelas do céu noturno não existem mais.