Estrelas

O que existe orbitando a estrela Betelgeuse?

Sem sombra de dúvidas, a estrela Betelgeuse é uma das mais conhecidas do céu noturno. Ela fica localizada em uma das pontas da constelação de Órion e é muito fácil de você distingui-la de qualquer outra porque ela é avermelhada, o que é um comportamento único de Betelgeuse em Órion. Não dá para dizer que Betelgeuse está próxima da Terra, quando sua distância marca 600 anos-luz, mas ainda é uma das estrelas mais observadas da galáxia. Então, o que será que existe orbitando ela? É parecido com o que encontramos no sistema solar?

Não é tão incomum assim você encontrar estrelas parecidas com Betelgeuse no céu noturno. Por exemplo, temos outras estrelas tão famosas quanto ela, tipo Antares e Aldebaran, que fazem parte de outras constelações. Todas elas são estrelas que os astrônomos chamam de supergigantes vermelhas, que pode ser definido também como um estágio da vida de uma estrela onde ela já saiu da sequência principal e hoje segue rumo ao fim de sua vida. Betelgeuse é uma estrela solitária, assim como é o Sol, mas ao contrário da nossa estrela que tem uma idade 5 bilhões de anos, aproximadamente, Betelgeuse começou a brilhar há meros 15 milhões de anos. Sim, essa estrela sequer existia quando os dinossauros ainda andavam na superfície da Terra e estamos falando de uma estrela muito jovem em escala cosmológica.

Por outro lado, ela também já é uma estrela bem velha quando você considera que ela não está mais em sequência principal e hoje deve estar fundindo e dando prioridade a átomos de hélio e outros elementos cada vez mais pesados. Lembre-se disso tudo, pois será crucial para você entender que a órbita de Betelgeuse é mais complexa do que parece e todos os fenômenos que estamos falando influencia diretamente em seus arredores. Bom, a massa de Betelgeuse é estimada em até 20 vezes a massa do Sol e é tão gigante que, se fosse colocada no lugar da nossa estrela, o raio dela chegaria até a órbita de Júpiter, engolindo todos os planetas rochosos no processo. O diâmetro da total da estrela passa fácil de 1 bilhão e 300 milhões de quilômetros e, acredite, uma estrela tão gigante quanto essa geraria processos intensos em suas proximidades.

O diferencial de Betelgeuse é sua massa elevada e certamente um poderoso evento de supernova nos próximos 100 mil anos. Será épico se existir alguém aqui na Terra para observar. Nesse estágio de evolução estelar, uma supergigante vermelha começa liberar as camadas superiores de sua estrutura, levando para o espaço imensas nuvens de gás e não é atoa que Betelgeuse é conhecida por suas intensas baixas de luz que eventualmente ela dá. O episódio mais estranho de todos aconteceu ainda no final de 2019 e persistiu por meses até o começo do ano de 2020, quando houve uma baixa impressionante de 37% do brilho habitual naquele momento. Isso foi a maior variabilidade da luz em mais de um século, revelando que algo muito estranho estava acontecendo ao redor da estrela. Meses depois, os astrônomos uniram forças de poderosos telescópios para entender o que estava acontecendo por lá e descobriram que Betelgeuse tinha ejetado uma nuvem de poeira imensa barrando a luz visível até a Terra. Detalhe, foi tão expressiva que a estrela lindíssima do céu noturno tinha ficado mais fraca e pouco evidente. Então, a primeira coisa que existe ao redor de Betelgeuse são nuvens de poeira em constante expansão. Você não precisa imaginar como seria, pois telescópios já capturaram imagens incríveis dos arredores da estrela. Em infravermelho, o VLT, no Chile, capturou obscurecendo a luz da estrela no centro, a radiação emitida pelas nuvens de poeira que estão ao redor da estrela.

Créditos: ESO/VLT

Um detalhe interessante nessa imagem é que o ESO, a entidade responsável pelo complexo de telescópios no Chile, deixou a estrela em escala no centro só para termos uma noção da grandiosidade que a captura representa naquela região. Em outras imagens, podemos ver também de maneira ampla as ondas de choque criadas pela expansão do gás que sai de Betelgeuse.

Créditos: NASA/ESA

A imagem revela o gás em forma de arco que ainda está seguindo o campo magnético da estrela, criando essa onda de choque com o espaço interestelar. Essa imagem com certeza é uma das mais lindas e nítidas dos arredores de Betelgeuse, capturada pelo satélite Herschel, da Agência Espacial Europeia e o gás está brilhando em infravermelho, ou seja, não é visível nem mesmo a ajuda de telescópios. Para uma noção de tamanho, o arco mede 4 anos-luz de largura e faz jus ao tamanho imenso da estrela. Mas e planetas? Existem por lá? Bom, sobre isso realmente não há nenhuma boa notícia. Afinal, pensa comigo, a estrela tem apenas 15 milhões de anos de idade e alguns astrônomos defendem que um planeta pode demorar 50 milhões de anos para se formar completamente e se tornar uma bola considerável de matéria, ou seja, não houve tempo suficiente para que qualquer planeta se formasse por ali e, talvez, lá no começo pode ter acontecido uma formação planetária rápida, mas não deu tempo de finalizar e todos esse eventos que uma supergigante vermelha pode proporcionar acaba destruindo ou impedindo que qualquer mundo se forme ao redor de Betelgeuse. Também temos que o contar o fato de que Betelgeuse é uma estrela que incha pela sua própria natureza de supergigante vermelha e isso quer dizer que qualquer planeta que tenha se formado por lá, certamente foi engolido.

Chegamos então à conclusão de que não há muita coisa além de grandes nuvens de poeira circundando Betelgeuse. Não há planetas, mas também vimos que os processos finais da estrela também geram lindíssimas nebulosas e criam fenômenos muito interessantes.


Você também pode assistir ao conteúdo desta matéria em vídeo!

Alexsandro Mota

Nordestino, um grande amante da astronomia e divulgador científico há quase uma década. Sou o criador do projeto Mistérios do Espaço e dedico meu tempo a tornar a astronomia mais acessível.