O envio de sondas espaciais para outros planetas possibilitou imagens épicas de paisagens alienígenas nunca antes vistas por qualquer pessoa. Esse efeito da exploração do espaço é o que instiga a nossa curiosidade para buscarmos sempre entender mais sobre os mundos que estão ao nosso alcance. No entanto, todos esses mundos que já visitamos até aqui são regidos pela gravidade de uma estrela gigantesca que chamamos de Sol. Devido a sua natureza escaldante, não é possível chegar tão próximo quanto já chegamos dos planetas, mas com o equipamento certo podemos obter os registros mais próximos mesmo de longe.
Localizado a 150 milhões de quilômetros de distância, o Sol é imponente o suficiente para iluminar cada centímetro quadrado do nosso planeta. Na realidade, o Sol converte por segundo algo na ordem de algumas milhões de toneladas de matéria em energia. Essa energia, por sua vez, chega na Terra na forma de luz e calor e, graças aos processos de fusão nuclear no interior da estrela, os fenômenos termonucleares acontecem para termos nossa fonte de luz que nunca falhou por bilhões de anos. Felizmente, a nossa estrela é um do tipos mais calmos entre as estrelas da galáxia e não costuma emitir grandes flares de radiação em direção ao espaço, mas ainda assim podemos ter episódios esporádicos de atividade que seguem o ciclo solar, onde flares de potência recorde é capaz de destruir qualquer tecnologia que temos hoje. Por isso, o estudo da estrela se tornou uma maneira de nos prevenir contra os ataques eventuais que o Sol pode proporcionar e hoje temos sondas e satélites de monitoramento solar capazes de acompanhar a atividade da estrela 24 horas por dia.
Esse acompanhamento de satélites como o SDO, uma sigla em inglês que significa Solar Dynamics Observatory, conseguem obter imagens em tempo real do que está acontecendo na superfície do Sol e, portanto, hoje podemos prever com pelo menos alguns dias de antecedência quando uma enorme tempestade solar vai surgir na superfície do Sol. Esse tipo de estudo do espaço é comparado pelos astrônomos com a previsão do tempo aqui na Terra, já que não é tão difícil sabermos se vai chover ou não amanhã, mas ainda não é possível prever se o Sol emitirá uma grande dose de radiação semana que vem, por exemplo. É o que chamamos de clima espacial. Isso envolve radiação, campos eletromagnéticos e outros fenômenos bem estranhos. Para acompanhar a estrela, podemos ficar de olho em como surgem manchas escuras na superfície ou tentar detectar um aumento súbito de algumas partículas subatômicas chegando na Terra. Geralmente, esse tipo de evento anuncia uma tempestade geomagnética nas próximas horas ou dias.
A partir daqui fica mais evidente o quão importante é vermos o Sol de perto. Hoje em dia, temos uma sonda espacial que se arrisca se aproximando alguns milhões de quilômetros da superfície solar, mas mesmo assim não podemos nos aproximar demais. Aqui entra um poderoso telescópio localizado no complexo de observatórios Haleakala, no Havaí. Chamado de Telescópio Solar Daniel Inouye é o maior e mais avançado telescópio solar do planeta. Possuindo um espelho de mais de 4 metros de diâmetro e localizado a 3 mil metros acima do nível do mar, o equipamento consegue obter imagens incrivelmente próximas do Sol e com resolução recorde. Bom, o telescópio é fantástico e consegue obter resoluções de estruturas na superfície da estrela tão pequenas quanto 20 quilômetros de diâmetro. Pode parecer muita coisa, mas o Sol tem mais de 1 milhão e 300 mil quilômetros de diâmetro e está localizado a 150 milhões de quilômetros da Terra.

Por exemplo, nesta imagem que estamos vendo acima, podemos ver estruturas que os astrônomos chamam de grânulos e são células convectivas de plasma borbulhando no Sol. Vale lembrar que o Sol não é feito de uma superfície sólida, mas é constituído de um estado da matéria que conhecemos como plasma. Basicamente, o plasma se assemelha a um gás, mas está tão quente que os elétrons ficam livres. De qualquer forma, seria impossível pisar na superfície do Sol, pois não há onde pisar. Nas imagens do telescópio Inouye, as células convectivas são responsáveis por trazer o calor do interior para fora e, acredite, essa energia que o telescópio conseguiu fotografar é tão antiga quanto a espécie humana. Resumidamente, o Sol é tão denso nas camadas profundas que é difícil para a radiação solar sair e as partículas colidem entre si por centenas de milhares de anos antes de atingir a superfície superior. A radiação gerada agora no núcleo do Sol pode demorar quase 200 mil anos para encontrar o espaço.

Pois bem, cada estrutura nessas imagens pode medir o tamanho do estado do Amazonas e são elas responsáveis por todo processo convectivo da estrela. De acordo com National Science Foundation, a instituição financiadora do telescópio, essas são as imagens mais nítidas do Sol já feitas na história da astronomia. De um lado, imagens sensacionais da superfície da estrela capturadas daqui a 150 milhões de quilômetros e, do outro, uma sonda que capturou a atmosfera da estrela chegando lá. Registros fantásticos que ficam marcados na história da astronomia e da exploração espacial, mostrando nossa estrela de uma forma nunca antes vista.
Nordestino arretado, um grande amante da astronomia e divulgador científico há quase uma década. Sou o criador do projeto Mistérios do Espaço e dedico meu tempo a tornar a astronomia mais acessível.