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James Webb verá luzes artificiais em Proxima Centauri?

Atualmente, o James Webb é o maior telescópio disponível no espaço e o que mais possui sensibilidade para ver o universo de várias formas. Lançado com o objetivo de estudar principalmente os primórdios do universo, o telescópio também pode ser usado para buscar vida fora do nosso planeta através de assinaturas químicas que podemos observar viajando pelas ondas eletromagnéticas. Dessa forma, a estrela mais próxima do sistema solar pode ser um alvo interessante, pois lá já sabemos que mundos rochosos existem em órbita. Um desses métodos é encontrar alguma evidência de tecnologia e, bom, alguns pesquisadores teorizam que luzes artificiais podem ser o alvo ideal.

Ao redor de Proxima Centauri, uma pequena estrela anã vermelha, existem três exoplanetas descobertos: Proxima b, c e d. E, bom, entre todos os exoplanetas que já encontramos, esses três podem ser considerados os mais viáveis em sentido de comunicação e alcance da humanidade. Afinal de contas, quando tratamos de distâncias cosmológicas, qualquer ano-luz que seja já representa uma quantidade descomunal de quilômetros e se torna inviável qualquer tipo de viagem espacial. Um único ano-luz, ou seja, a distância em que a luz percorre em um ano, representa mais de 9 trilhões de quilômetros. Pois é, então, Proxima Centauri é nossa melhor aposta no sentido de exploração de planetas pela galáxia e, agora, usando o James Webb, os astrônomos esperam encontrar bioassinaturas e, na melhor das hipóteses, poderíamos encontrar até tecnoassinaturas.

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A diferença básica é que, de um lado, podemos detectar gases em atmosferas que possam estar associados à produção biótica e, do outro, evidências de algum tipo de tecnologia. Na detecção de gases, isso inclui metano ou a própria fosfina, mas a grande questão é que ambos também podem ser gerados por outros recursos naturais. Os astrônomos também querem focar em quais tipos de luz estão sendo absorvidos no espectro de um planeta, pois existe uma coisa chamada Borda Vermelha da Vegetação, uma característica evidente da vegetação terrestre. Basicamente, a observação focaria em saber se comprimento de onda perto de 700 nm está sendo ou não absorvido por lá e, encontrar evidências de que esse comprimento de onda esteja sendo refletido do planeta, é um indicativo de que esse tal mundo pode estar coberto por plantas como as terrestres. Afinal de contas, as plantas terrestres absorvem muito bem a luz visível, mas possuem uma certa resistência ao infravermelho e refletem essa radiação quase que completamente para o espaço. Essa é, de longe, uma das mais confiáveis bioassinaturas que poderíamos ter, considerando que as plantas alienígenas possuem o mesmo princípio biológico que as nossas plantas.

Considerando que estamos procurando vida inteligente capaz de desenvolver sua própria energia elétrica, alguns pesquisadores das universidades de Stanford e Havard criaram uma hipótese interessante e o mais interessante é que usaram ciência pura e dados reais para apoiar essa ideia. Obviamente, isso não significa que eles teriam algum sucesso, pois Proxima Centauri é uma estrela complicada em diversos sentidos, principalmente considerando que seu planeta de alvo principal, o Proxima b, é um mundo travado por maré e apresenta uma única face virada o tempo todo em direção à estrela.

Mas afinal, como o James Webb poderia fazer algo desse tipo? Bom, o primeiro passo é considerar os parâmetros do sistema. Os pesquisadores já sabem que o planeta deve ter algo na ordem de 1,3 vezes o raio da Terra e a estrela 0,14 raios solares. Em outras palavras, o planeta é cerca de 30% maior do que a Terra e a sua estrela tem pouco mais de 10% do tamanho total do Sol. Além disso, parâmetros orbitais como distância que o planeta se encontra da estrela e o período orbital também são levados em conta, além de outros números, inclinação do eixo de rotação e tudo mais.

Mas para quê tudo isso? Bom, a ideia aqui é medir a curva de luz do planeta meio à escuridão esperada para um planeta sem vida no lado noturno. Lembrando, este mundo é travado por maré e eventualmente o lado noturno poderia ser observado. Considerando que tais alienígenas poderiam usar luzes artificiais com o mesmo espectro das luzes de led que temos em postes aqui na Terra, o Telescópio Espacial James Webb poderia detectar o espectro da iluminação LED compondo 5% da energia que chega de Proxima b com uma margem de pelo menos 85% de confiança. Em outras palavras, considerando o tamanho do planeta e a distância que ele se encontra da estrela, o telescópio poderia detectar 5% da energia do planeta proveniente de luzes artificiais de cidades alienígenas, caso exista alguma por lá. Bom, quando você olhar imagens noturnas da Terra, você percebe como o nosso planeta deixou de ser escuro com o surgimento da energia elétrica. Grandes centros parecem ilhas douradas quando fotografadas do espaço, a questão agora é: será que tais luzes poderiam ser detectadas em distâncias interestelares. Talvez com o James Webb isso seja possível.

Todos esses números que vimos até agora, de acordo com os pesquisadores, significaria que o telescópio espacial poderia encontrar um nível de iluminação de LEDs 500 vezes mais poderosos do que o encontrado na Terra. Então temos uma margem boa e há sensibilidade de sombra para detectar tal espectro no sistema Proxima Centauri. Se é possível realmente, bom, ninguém sabe, só na prática para sabermos. Na realidade, existem muitas hipóteses interessante, mas devemos sempre deixar nossas expectativas de forma moderada, pois Proxima Centauri é uma estrela que pode lançar muito mais radiação nociva do que uma estrela como o Sol, impedindo o desenvolvimento de vida num planeta por lá, ou, numa hipótese mais animadora, as luzes de cidades realmente existiriam, mas estariam fora do espectro que os humanos veem, pois tais alienígenas teriam evoluído sob a luz infravermelha de uma estrela anã vermelha.

De qualquer forma, são cenários interessantes para pensarmos e, quem sabe, uma surpresa apareça ao apontarmos o James Webb para Proxima b.

Alexsandro Mota

Nordestino, um grande amante da astronomia e divulgador científico há quase uma década. Sou o criador do projeto Mistérios do Espaço e dedico meu tempo a tornar a astronomia mais acessível.