Estrelas

Gliese 710: a estrela que vai invadir o sistema solar

Acredite, boa parte do espaço que existe entre as estrelas da Via Láctea é puramente vazio e as estrelas estão separadas por vários anos-luz entre elas. Em nossa região da galáxia, temos vários sistemas estelares próximos, boa parte deles até mesmo binários ou triplos, o que torna o sistema solar especial por ser um tradicional sistema único estelar. Quando estudamos profundamente o nosso bairro galáctico, acabamos encontrando de tudo que você possa imaginar quando relacionamos a estrelas e hoje conseguimos medir a órbita de várias delas, descobrindo que algumas podem adentrar o sistema solar ao decorrer dos anos. Um exemplo disso é a estrela Gliese 710.

Quando você olhar as estrelas do céu noturno, saiba que várias delas são sistemas binários ou triplos. Não vemos a configuração dupla dessas estrelas porque a distância acaba unificando o brilho do sistema e, às vezes, o sistema é composto por uma estrela maior e outra que emite pouca luz, o que dificulta a visualização desses sistemas. De qualquer forma, é interessante analisar que talvez demos muita sorte em se desenvolver em um sistema como o nosso e, se houvesse uma segunda estrela por cá ou se Júpiter tivesse conseguido massa suficiente para se tornar uma estrela, então a vida na Terra sequer existiria ou seria diferente do que estamos acostumados a ver.

O sistema solar não ganhou uma segunda estrela pela quantidade de massa que existia em nossa nebulosa primordial que deu origem ao Sol, sendo capaz apenas de formar uma única estrela de porte médio, todos os planetas e um gigante gasoso de respeito. Porém, o que muitos não sabem é que ao longo da história recebemos visitas interessantes nos arredores do sistema solar com estrelas de outros sistemas chegando tão próximas daqui que adentraram regiões como a Nuvem de Oort. Porém, as aproximações estelares não são novidade alguma, mas o que chama mesmo a atenção é proximidade que cada episódio pode proporcionar, até porque temos estimativas de que pelo menos 700 estrelas poderão se aproximar 15 anos-luz do sistema solar no próximo milhão de anos em um efeito natural causado pelas órbitas que cada sistema possui ao redor do núcleo da galáxia. Um dos episódios que mais chamou a atenção dos astrônomos foi quando eles descobriram a estrela Gliese 710 e como sua órbita é verdadeiramente assustadora, pois apesar das futuras centenas de aproximações que acontecerão, nenhuma estrela vai de fato adentrar a nuvem de Oort, com exceção apenas de Gliese 710. Detalhe, ela não só vai adentrar a parte mais externa do sistema solar, mas vai chegar de 4 a 10 mil unidades astronômicas do Sol nos próximos 1 milhão de anos.

Gliese 710 no espaço profundo. Créditos: DSS1/Galaxy

Atualmente, a Gliese 710 está localizada a cerca de 63 anos-luz de distância e no momento não representa nenhum risco ao sistema solar. Mas viajando a 53 mil km/h pelo o espaço, os astrônomos a observaram usando o satélite de mapeamento estelar Gaia, da Agência Espacial Europeia, para calcular com exatidão a órbita da estrela na Via Láctea. Eles descobriram que a trajetória do objeto a leva em uma rota em direção ao sistema solar em cerca de 1 milhão de anos a partir de agora. Convertendo a possível distância mínima de 4 mil unidades astronômicas, chegamos a um número de 600 bilhões de quilômetros, o que é mais de 100 vezes a distância que Plutão está do Sol.

De acordo com os astrônomos, ela a passar a essa distância mínima, não vai causar nada além de uma perturbação gravitacional em objeto a mais de 40 unidades astronômicas, mas os efeitos indiretos podem vir depois com cometas vindo em direção a nós. Gliese 710 é uma estrela bem de tamanho bem considerável, chamada de anã laranja e contém um pouco mais da metade da massa do Sol. Bem mais brilhante do que uma anã vermelha, a estrela certamente causará um show no céu noturno quando passar por aqui em sua máxima aproximação. A magnitude visual chegará a ser negativa, ou seja, o brilho vai competir até com a estrela mais brilhante e deve atingir -2,7 na escala. Só para efeito de comparação, esse número corresponde ao dobro do brilho de Sirius e metade do brilho que Vênus é visto aqui da Terra.

A verdade é que a nossa história futura está repleta desses eventos bem legais, uma pena que a escala de tempo não permitirá que a nossa geração e nem as próximas que virão vejam a aproximação de Gliese 710. Bom, a estrela não tem brilho suficiente para ser vista a olho nu, mas não tem como negar que esse mapeamento estelar continua sendo cada vez mais preciso. É bem provável que esses números sejam atualizados no futuro, mas encontros de estrelas com o sistema solar sempre aconteceram e muitos outros ainda vão acontecer.


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Alexsandro Mota

Nordestino, um grande amante da astronomia e divulgador científico há quase uma década. Sou o criador do projeto Mistérios do Espaço e dedico meu tempo a tornar a astronomia mais acessível.