Astrofísica

“Armadilha” de alta energia foi encontrada no centro da Via Láctea

Os cientistas descobriram que o centro da nossa galáxia pode atrapalhar alguns dos raios cósmicos de maior energia, produzindo rajadas de raios gama que seguem em nossa direção. O estudo foi realizado por uma equipe internacional de astrônomos, usando dados do Sistema de Alta Eficiência Estereoscópica (HESS) na Namíbia e do Telescópio Espacial Fermi de Raios Gama, da NASA.

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Os raios cósmicos são partículas de alta energia que se movem através do espaço a quase velocidade da luz, geralmente provenientes de coisas como supernovas. Cerca de 90% são prótons, e quando interagem com a matéria, eles podem produzir a forma mais alta de luz – raios gama.

Usando Fermi e HESS, a equipe encontrou evidências de atividade extrema de raios gama no centro galáctico. Especificamente, eles encontraram um brilho que atingiu 50 trilhões de elétron-volts (TeVs). A luz visível, para comparação, geralmente só atinge cerca de dois a três elétrons volts.

Mas o que está acontecendo? Bem, Francis Reddy da Divisão de Ciências Astrofísicas da NASA disse que essa espécie de “armadilha” seja provavelmente causada por nuvens de gás. À medida que os raios cósmicos se dirigem para a galáxia, essas nuvens forçam os raios cósmicos de maior energia a se moverem mais devagar. Neste ponto, a interação das partículas e do gás libera os raios gama de alta energia vistos pelos pesquisadores.

“Continua a ser um mistério onde esses raios cósmicos extremamente enérgicos estão sendo acelerados, mas quando passam pelo centro galáctico, eles ficam mais lentos do que o esperado”, disse Reddy.

De acordo com o autor principal da pesquisa, Daniele Gaggero da Universidade de Amsterdã, este estudo sugere que a maioria dos raios cósmicos na região mais interna da nossa galáxia vem de além do centro galáctico. E uma vez que eles alcançam o centro, eles são então desacelerados através de interações com as nuvens de gás, ou mais especificamente a protuberância da própria galáxia.

“O motivo desse fenômeno não é claro, mas deve ser explicado no contexto da física que descreve a interação dos raios cósmicos com o campo magnético galáctico”, disse Gaggero.

Curiosamente, essa pesquisa também poderia explicar de onde os neutrinos – partículas subatômicas com massas de quase zero – estão vindo. Eles são as partículas fundamentais mais rápidas, mais leves e menos compreendidas, mas isso deve-se ao fato de apenas interagirem com a matéria.

“Os achados de Fermi e HESS sugerem que o centro galáctico pode ser detectado como uma fonte forte de neutrinos no futuro próximo, e isso é muito emocionante”, disse Regina Caputo, membro da equipe do Fermi. [IFLS]

Alexsandro Mota

Nordestino, um grande amante da astronomia e divulgador científico há quase uma década. Sou o criador do projeto Mistérios do Espaço e dedico meu tempo a tornar a astronomia mais acessível.